terça-feira, 26 de abril de 2011

As aulas de OPAN...

As tardes quentes de aulas, no Liceu Nacional Infante D. Henrique de Macau, nos longínquos anos da década de70, do século XX, passadas a “filosofar” ou a jogar á “batalha naval” nas “sestas de química” ou por vezes a segurar a cabeça, para esta não cair, arrastando assim o resto do corpo sonolento, nas soporíferas lições do Bonifácio (livro obrigatório de Filosofia), corpo este, vítima de noites mal dormidas, a ouvir música ou a tentar imitá-las na guitarra de cordas de nylon, (mais baratinha para os nossos bolsos) para entrarmos no movimento de então – contestatário q.b.!
Aulas estas em que o nosso arrefecimento corporal era feito á base de ventoinha de tecto e já lhe chamavamos um figo! Por que será que me veio isto à memória, logo agora que vivemos os dias mais frígidos de Janeiro, contrastando seguramente com o calor lânguido do verão macaense! Serão traumas da juventude!? Os psicanalistas terão aqui, concerteza, “pano para mangas”! Adiante…que se faz tarde.
Mas foi precisamente nestes anos que começamos a aprender o “bê à bá” da política nacional, com um casal de jovens professores recém-chegados (e casados de fresco) de Coimbra, á mistura com algumas letras de músicas proibidas, do Zeca, do Adriano, do Chico Fanhais, do Sérgio, entre outros músicos nacionais, ditos de intervenção. Outra era nossa professora de OPAN, de ideias muito arejadas para a época. Para os mais jovens, recordo que OPAN, era uma disciplina obrigatória imposta pelo Estado Novo (Salazarista) no curso liceal – Organização Política e a Administrativa da Nação, que contava para a média final do antigo sétimo ano!
Éramos pois, logo bem novinhos, obrigados a decorar aquela “pasta amorfa” coisa horrível, que nos davam em doses semanais, mas sem convicção e até viria a ter o efeito precisamente contrário, ou seja, fazia com que a revolta em nós despertasse, nesses mesmos bancos da escola, com os nossos 16/17 anos. Recordo que a maioridade só se obtinha a partir dos 21 anos de idade e com ela o direito ao voto – ponto a que queria chegar!
Fomos pois iniciados nestas tardes bucólicas de imenso calor, muito anestesiados com doses de uma rançosa política administrativa corporativista, onde a democracia era coisa do tempo dos “gregos e troianos”, por conseguinte muito ultrapassada e pouco efectiva. E mais - política – era palavra interdita, não era para nós. NUNCA! Os conselhos que ouvíamos diariamente dirigidos aos nossos colegas e irmãos com um pé na Universidade era sempre – “não se metam no que não são chamados, por amor de Deus nunca não se metam na política, isso pode-vos custar muito caro e trazer-vos azar, para a vida inteira!”
Pois estes conselhos só nos serviam mesmo era para nos espicaçar e acabar por fazer o que era proibido - é sempre o mais apetecido, esse fruto!
Agora passados quase quarenta anos (1974) olhamos á nossa volta, nesta época de eleições Presidenciais e deparamo-nos com este alheamento frontal, ao dever cívico - ao direito ao voto - a um direito adquirido, com muita luta por vezes até à morte, sem eufemismos, e perguntamo-nos… será que valeu a pena?
Este fenómeno do absentismo, vencedor das eleições, em Portugal, poderão ser reflexo e consequência de muita coisa, mas sinceramente, mas talvez se tivessem sido obrigados a decorar o livrinho de OPAN, nas tardes quentes macaenses, não tinham perdido a noção e o rasto do que foi o passado. Agradeço assim a todos os meus mestres, que me abriram os olhos e me incutiram os princípios democráticos, apesar dos tempos rígidos e repressivos em que vivíamos e as consequências nefastas que esses ensinamentos lhes poderiam ter trazido.
Artigo da autoria de Luís Machado, antigo aluno do Liceu, publicado no Jornal Tribuna de Macau, 26-01-2001

domingo, 3 de abril de 2011

Postal do início da década de 1960

"Frequentei o Liceu em Macau nos anos de 1964/65, como estava a cumprir o serviço militar, tinha aulas à noite. Frequentei algumas cadeiras que me faltavam para completar o antigo 7º. ano. Lembro-me que a n/ professora de Ciências Naturais era a Dr. Ana Maria Amaro, cujo marido Tenente Amaro, trabalhava no Palácio do Governo. Algumas vezes, mais no fim do ano escolar, tivemos encontros de convívio na sua casa.
Nomes de alunos, talvez um ou outro, como: Álvaro, Pedro, Isabel, enfim se alguém se recordar é sempre bom saber notícias. Já fui a Macau numa visita de romagem e poucas pessoas conhecidas encontrei. São muitos anos já passados."
Um abraço a todos, José Carlos Soares de Macedo - Março 2011